Carla Viana Coscarelli[2]
Ninguém mais duvida que o computador é coisa do presente. O que parecia futuro há pouco tempo atrás já é realidade na sala de aula. O problema hoje é o que fazer com esse instrumental. Muitos professores ainda não sabem usar o computador, portanto, o primeiro passo é aprender a fazer isso. É preciso saber o que ele pode fazer, para depois saber o que fazer com ele. Isso não quer dizer que devemos saber tudo sobre computador. É preciso, pelo menos, ter intimidade com os recursos mais freqüentemente usados do editor de textos, porque o resto vamos aprendendo um pouco a cada dia de uso desse programa. Além disso, saber receber e enviar e-mails e saber navegar na Internet são condições indispensáveis para quem quer usar o computador na sala de aula.
Outro requisito é mudar a noção do que é uma aula de português. A aula de português, como tradicionalmente concebida, não existe mais. Ao invés de estudar português, os alunos vão aprender através do português. O português vai ser usado como instrumento para se aprender história, geografia, literatura, retórica, educação física, química, etc. Mais do que nunca a interdisciplinaridade vai tomar conta da escola. Isso significa que os alunos precisam saber, na leitura, produzir sentido “levando em conta os recursos lingüísticos presentes [no texto] e percebendo sua inter-relação” e, na escrita, “saber escolher e usar os recursos lingüísticos adequados aos propósitos da interlocução” (Costa Val, 1998:2).
Muitos professores ainda devem estar se perguntando sobre a gramática. Há muito que o estudo da gramática normativa como parâmetro classificatório de períodos, orações e termos deles não deveria ser objeto de estudo sistemático das aulas de português. Aos que ainda insistem em argumentar que o aluno precisa aprender gramática por causa dos concursos, sugiro uma reflexão: estamos preparando o nosso aluno para um concurso ou para a vida? Concursos, mais dia menos dia, vão mudar (muitos já mudaram) e o que será do aluno que só foi preparado para um determinado tipo de concurso?
Excluir da aula de português o estudo da gramática como uma metalinguagem usada unicamente com fins classificatórios, não significa, como andam dizendo por aí, que se deve jogar gramática no lixo. Usar a língua é usar a gramática dessa língua. Então não faz sentido, nem é possível, deixar a gramática de lado. Nem tão pouco é proibido o uso da nomenclatura da gramática tradicional. A gramática normativa deve ser, como os dicionários, um livro de consulta. Devemos ensinar os alunos a consultá-la sempre que houver dúvidas sobre a norma padrão culta e alertá-los para o fato de que ela não é a dona da verdade absoluta nem contém todas as respostas a respeito dessa variante da língua portuguesa. Para os casos de uso de uma linguagem não tão formal e para reflexão sobre muitas questões gramaticais, outras gramáticas, como a Gramática Descritiva do Português de Perini (1996) são muito apropriadas.
Deixar de lado o ensino tradicional da gramática como ele vem sendo feito há anos também não significa que as reflexões sobre a língua não existirão mais, muito pelo contrário, a reflexão sobre a língua em uso é o que deve ser feito. Aos alunos devem ser oferecidas atividades que os desafiem intelectualmente, estimulando-os a refletir sobre o funcionamento da linguagem e aproximando novamente o que nunca devia ter sido distanciado: a reflexão sobre os fatos gramaticais e o uso da língua.
Levando em conta essas considerações que acabamos de fazer, podemos assinalar como dever do novo professor de português fazer com que os alunos:
à tenham consciência das diferenças entre língua oral e escrita;
à saibam reconhecer e usar bem os diversos registros da língua, tanto escrita quanto oral, variando do mais formal ao mais informal;
à saibam ler e redigir os mais diversos tipos de texto (incluindo o e-mail e o hipertexto);
à saibam produzir textos adequados à situação e ao interlocutor a que se destinam;
à tenham o hábito e a capacidade de refletir sobre a linguagem nos seus mais diversos modos de utilização;
à ao invés de memorizar informação, saibam procurar e usar as informações de que precisam. [3]
Em suma, o aluno precisa saber ler e escrever bem, ou seja, precisa dominar a sua língua para que conquiste a autonomia da aprendizagem, que é, afinal de contas, o que queremos todos nós professores. O computador pode ser de grande ajuda nessa tarefa nada fácil, pois será o instrumental que ajudará o professor a propiciar as condições necessárias para os estudantes exercitarem a capacidade de procurar e selecionar informação, resolver problemas e aprender independentemente (Valente, 1989).
[1] Coscarelli, Carla V. A nova aula de português. Presença Pedagógica. Belo Horizonte, mar./abr., 1999.
[2] Professora do Departamento de Letras Vernáculas da FALE/UFMG
[3] Outros objetivos que poderiam ser acrescentados a essa lista estão na primeira versão do currículo do ensino fundamental (Cafiero, 1998).
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